Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Regina Duarte fala abertamente sobre sexualidade: 'O ser humano é bi'

Atriz concede entrevista para o Extra e fala sobre sua carreira.

04/07/2015 12:11

Regina Duarte se esquiva da aura de diva. Os 50 anos de carreira não tiraram dela o lugar de mulher comum. Quem imaginaria que a intérprete de Viúva Porcina lava a própria calcinha no banho, desde os 3 anos? Aos fãs, sobressai a figura humana. “Como uma estrela pode ser tão simples?”, questiona Márcia Elizei, do fã-clube carioca dedicado à atriz. Com ternura na voz, a secretária de 47 anos recorda um almoço na casa de Regina e um convite, prontamente aceito, para passear no shopping. Ao lado de dois amigos, ela presentou a Namoradinha do Brasil com três bonecas de personagens marcantes. Na entrevista, a atriz recorda alguns desses papéis, ressalta o prazer de estar em “Sete vidas”, que termina na próxima sexta-feira, e avisa: “Daqui para frente, só quero moleza! Moleza com qualidade!”.

 Foto: Fábio Guimarães

Seus 50 anos de carreira trazem à tona outros números fortes: são 30 anos de “Roque santeiro”, 25 de “Rainha da sucata”, 20 de “História de amor”... Você é saudosista?

Não sou nostálgica, mas fico um pouco aflita de ter feito tanta coisa. É como se tudo tivesse acontecido com uma entidade que não sou mais eu. Ao mesmo tempo, isso não me garante nada na cena que tenho que gravar amanhã, sabe? Está tudo na prateleira. Prefiro que não interfira no meu hoje.

Você é conhecida por papéis de sucessos estrondosos. Hoje ainda é uma necessidade fazer personagens grandiosos?

Já há algum tempo não gostaria de ser protagonista absoluta de nada. A minha cota de satisfação e sacrifício se esgotou. O que eu tinha que doar em termos de vida pessoal para a profissão foi doado. Daqui para a frente, só quero moleza. Moleza com qualidade (risos)! Agora, em “Sete vidas”, estou feliz de ter um personagem (Esther) de acordo com a minha idade, com as minhas pretensões em relação à carreira. Tem um tamanho adequado para o meu momento e para a minha idade, sabe?

Você que solicitou esse trabalho?

Sim, tinha desejo de trabalhar numa novela da Lícia Manzo (autora). Era louca por “A vida da gente” (2011). Não perdia um capítulo! Às cinco da tarde, eu começava a desacelerar, estivesse onde estivesse. Em casa, eu fazia um pãozinho de queijo e um sanduíche de mortadela, e era a novela direto, com os amigos e a família toda.

“Sete vidas” aborda mudanças familiares num cenário de resistência de alguns. Em “Babilônia”, por exemplo, um beijo gay foi rejeitado. O que acha disso?

A arte e a dramaturgia têm o importante direito de colocar temas tabus em pauta. Mas é ingênuo acreditar que isso possa acabar com o preconceito. Falar sobre homossexualidade realmente oxigena o assunto, tirando-o das quatro paredes e da obscuridade. Porém, exagerar na colocação do debate pode gerar uma faca de dois gumes, revertendo uma irritação de quem discrimina.

Vivemos um retrocesso?

Enfrentar etapas de resistência é inevitável. Sempre foi assim! Há agora um movimento de transformar o privado em público. As pessoas querem beijar na boca e ter o direito de mostrar que estão amando pessoas do mesmo sexo. E é isso que está irritando quem critica. A questão é que isso existe e existiu a vida inteira, desde os gregos da Antiguidade. A homossexualidade faz parte da composição do indivíduo. O ser humano é bissexual! Ele pode ser mais hétero ou mais homo, mas, no fundo, ele é bi, basicamente. É da natureza! Quando tem que acontecer, cara... Sai da frente! Que se dane! Não tem preconceito e barreira que impeçam o amor. Essa é a história. Tem sido assim e vai continuar assim.

Você se inclui nessa tese?

Totalmente! Sou potencialmente bissexual. No meu caso, a tendência hétero é muito mais forte. Mas não nego a possibilidade de ter um deslumbramento homossexual. Sei lá! Posso ser tocada pela varinha (risos). Agora está cada vez mais difícil! Na minha idade, as doses de libido ficam menos fortes.

Envelhecer na TV, aos 68 anos, é diferente?

Não sou vaidosa. Essa é uma das razões por eu ser seletiva na escolha dos projetos de que participo. Se tenho alegria, paixão e prazer quando estou fazendo determinado trabalho, o meu exterior é o que menos importa. Existe uma força interna que se impõe e é maior do que qualquer invólucro físico. Não importa se o cabelo está assim, se a ruga está assada ou se a papada está caída, sabe? Nessas alturas, tem um motor interno no personagem que faz com que eu me sinta plena sem precisar estar bela, nos moldes convencionais.

Você se sente bonita?

Acho que estou, né? Sinto-me bela na minha idade, com toda a deterioração natural de quem está chegando aos 70 anos. Aceitar isso não é fácil. Mas depois que você fala “Dane-se!”, fica uma delícia. Já estou no “Dane-se!”.

Você leva uma vida rebuscada?

Faço coisas que talvez as pessoas não pensem. Não largo louça na pia sem lavar. Sou incapaz de deixar uma toalha molhada jogada. Não sei se as pessoas acham que uma estrela ou uma diva faça isso. Não quero nem falar da calcinha, né? Isso desde os 3 anos de idade minha mãe ensinou: “Calcinha se lava no banho!”.

Em 2002, você participou da propaganda partidária do Serra, dizendo que tinha medo do Lula. Arrepende-se?

Há cada vez menos hipóteses de me arrepender (risos). Mas me recolhi bastante depois disso. Nos anos 60, 70 e 80, todo mundo falava sobre o que sentia e pensava. Sou dessa geração. Sinto que essa participação ficou dispensável. Virou tudo bem e mal, preto e branco. É terrível essa polaridade. Não acho que isso possa contribuir para a evolução de uma nação.

Para quem bateria panela?

Sinceramente, acho que prefiro estar lendo um bom livro na hora do “panelaço”.


Fonte: Extra
Mais sobre: