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Você conhece Ana Cristina César?

Ana Cristina é sem dúvida um dos grandes nomes da poesia marginal da década de 1970

02/07/2016 23:10

Imagem: UOL 

“Você já conhecia a Ana Cristina César, homenageada da edição deste ano da Flip?” O Uol fez essa pergunta para dezenas de pessoas que estavam presentes na Feira Literária Internacional de Paraty, que acontece na cidade fluminense.

Adivinhem qual foi a resposta? Se por ventura, você disse “não”, acertou.

A reportagem diz que a resposta mais ouvida foi um “lacônico não” e um desconcertante "já ouvi “falar”.

Aqui, uma breve biografia de Ana Cristina César

Ana Cristina César nasceu no Rio de Janeiro. Poeta, ensaísta e tradutora.  Formou-se em letras em 1971 pela PUC/RJ. Participou ativamente do movimento carioca de poesia marginal. Conviveu com poetas como Cacaso e Waly Salomão e intelectuais como Heloísa Buarque de Holanda. Colaborou com publicações no Jornal do Brasil e Folha de São Paulo.

Ana Cristina César torna-se mestre em Teoria e Prática da Tradução Literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra em 1981, e neste mesmo ano é contratada como analista de textos pela Rede Globo de Televisão. (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2866/ana-cristina-cesar)

Cenas de Abril, Correspondência Completa, Luvas de Pelica e A Teus pés são as obras publicadas da poeta.

Aos 31 anos, em 1982, cometeu suicídio.

Ana Cristina é sem dúvida um dos grandes nomes da poesia marginal da década de 1970, pena que foi como um relâmpago 

Mas os entrevistados do UOL estão certos; pouca gente conhece a poesia desta grande, como ela mesma se autodenominava, “a mulher mais discreta do mundo”.

Eu mesmo só conheci Ana Cristina César nas aulas de poesia marginal da professora Maria Elvira Brito Campos, em 2009 na UFPI.

Aliás, aulas mágicas, revigorantes e reveladoras

Desde então, nunca mais perdi o contato com as poesias de Ana Cristina César

Li e reli, várias vezes, a antologia Destino: poesia organizada por Italo Moriconi cuja obra reúne os nossos principais escritores marginais. Li também de forma voraz, a antologia 26 Poetas Hoje da Heloisa Buarque de Holanda. E mais recentemente Poética, lançado pela Companhia das Letras.

Leia Ana Cristina César e a torne menos desconhecida, garanto que ela surpreenderá você leitor  

E como disse Caio Fernando Abreu: “Ana Cristina César concede ao leitor aquele delicioso prazer meio proibido de espiar a intimidade alheia pelo buraco da fechadura”

E para encerrar, um pouquinho de Ana Cristina césar


Arpejos

1. 

“Acordei com uma coceira terrível no hímen, sentei no bidê com um espelhinho e examinei minuciosamente o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significados a mais. Passei uma pomada branca até que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa murcharam igualmente meus projectos de ir de bicicleta à ponta do Arpoador. O selim poderia reavivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à leitura.”  

FLORES DO MAIS

Devagar escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais

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