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Por um coração sadio

O Cooper na manhã esfuziante, também faz parte da rotina do sujeito lépido e sexagenário

01/09/2015 09:21

Imagem: Google 

Homens e mulheres acordam cedo. Concentram-se pelo extenso da Avenida Raul Lopes. E antes de seguirem em caminhada, alongam-se em barras de ferro. Os mais novos são mais contorcionistas, os mais velhos e de músculos menos tesos são mais ofegantes. Nem parece serem feitos da mesma argila. Os de barriga proeminente caminham complacentes, os de barriga esguia correm alguns metros e logo param, mas todos querem um coração sadio, por isso usam as pernas para fugirem do infarto.

A mocinha de roupa fitness, dar passadas conforme o ritmo da música que escuta no fone de ouvido. Pela sutileza e musicalidade no andar, deve estar ouvindo Beethoven. Outra mocinha passa saltitante, sua desenvoltura é de alguém que caminha sobre brasas. Dois lírios numa notável mobilidade matinal de corpos. Pessoas também andam em duplas, os movimentos são sincronizados, a conversa jogada fora durante o percurso também é sincronizada, os músculos da boca se exercitam tanto quanto os do resto do corpo.

Um vendedor de rodelas de abacaxi tenta vender seu peixe, quer dizer, seu produto frugal. Oferece para ricos, empresários e executivos, mas estes, sem interesse algum, ignoram o homenzinho de estatura famélica. E vão embora sem comprar nada, desfilando suas opulentas obesidade pelo calçadão. O vendedor só não chora, porque é forte é persistente, ignora também os homens insensíveis e ácidos.

O Cooper na manhã esfuziante, também faz parte da rotina do sujeito lépido e sexagenário. Longevidade e vitalidade são palavras que lhe caem bem. O peso da idade – pasmem - não impede que o sujeito ultrapasse a viatura da Policia Militar com facilidade, os policiais que acompanham com olhares perscrutadores os caminhantes e que intimidam as ações dos meliantes que surgem da mata ribeirinha, olham com admiração o postiço queniano.

Este senhor que corre como garoto e desafia sua cronologia, é no dizer de Paulo Mendes Campos, um maroto “cardisplicente – isto é – homem que desdenha o próprio coração”.

Sim, o menino-senhor ou senhor - menino corre, corre até perder-se de vista. Sumiu entre os vultos. A insólita corrida do Tornado, o cavalo do Zorro. O sujeito de cabelos brancos, brancos como algodão, é tão rápido como o ritmo frenético da vida moderna, destoa completamente dos outros idosos que têm passos lentos e rigidez nos ossos. Desaparece na multidão com a mesma velocidade que é chegada a luz forte da manhã.

A Avenida Raul Lopes é assim, um misto de personagens incríveis. Há os paradinhos como as águas do Poti, há os rapidinhos como chuvisco em Teresina, há os que desaceleram o passo debaixo da Ponte Estaiada para verificar os batimentos, há os que se atenuam com água e depois se avivam outra vez, há enfim homens e mulheres que pulam cedinho da cama e vão correr ou andar para revigorar o coração. 

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