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No bar do Zil

Não importa a sua marca; no bar do Zil sempre haverá uma garrafa gelada nos esperando

26/01/2015 23:01

Quando eu morava no Dirceu II, no século passado, eu já ouvia falar do bar do Zil. Quando eu me mudei para o Dirceu I, também no século passado, eu também já ouvia falar do bar do Zil. E quando eu me mudei para a Piçarra, no início do século XXI, eu comecei a frequentar o bar do Zil. Esse resumo é para você entender que entra ano, sai ano, entra década, sai década, entra século, sai século e o bar do Zil continua a permear a minha vidinha básica, parece intemporal. 

O mundo gira, Teresina muda, a fila anda, a prefeitura cria faixas exclusivas para ônibus, os ônibus entram na fase de integração, e o bar do Zil continua ali, incólume, colosso na Avenida Miguel Rosa com a Rua Magalhães Filho. Para os apreciadores da cerveja de colarinho ou sem colarinho, para os operários que saem do expediente a fim de desopilarem, e para as comerciárias fãs de cigarro e uísque, o bar do Zil é patrimônio etílico e de convívio social da cidade, um lugar para temporariamente esquecer as elucubrações e viver intensamente as libações. 

O Zil é um ambiente simpaticíssimo, seu charme nem está na parte interior, mas sim na parte exterior, ali, na calçada, onde mesas e cadeiras estão em formato de prosa e poesia, onde todos os freqüentadores - sob prismas diferentes - vêem as horas e os veículos passarem. �‰ onde se ouve e se ver (videoclipes) uma música de qualidade, inclusive de gente piauiense. Outro dia mesmo, eu acompanhei uma seqüência muito boa: Lázaro do Piauí, Téofilo, Edvaldo Nascimento e o mais mafrense de todos, Roraima. Um verdadeiro compêndio musical que agrada aos ouvidos mais sensíveis e apurados.

Sem falar que o bar do Zil é também um ponto de encontro de famílias, de homens maduros com suas esposas maduras, de casais de jovens namorados, de moços imberbes que dividem o mesmo sanduíche e o mesmo refrigerante com suas minas angelicais. Ou seja, foi lá que inventaram o bom bate-papo entre cônjuges, entre amigos, entre amantes, lá é o point onde o acolhimento é gostoso e a comida e a bebida são apresentados em um menu de acrílico no formato de troféu, quando o garçom chega para lhe atender, tem-se a impressão de que ele está lhe oferecendo um prêmio. 

Prefiro à mesa próxima a placa de neon com o nome Zil em roxo, embora ache que qualquer uma me acomodaria bem, todas são minhas camaradas, afinal, como diria Carlos Drummond de Andrade, �€œvocê senta no bar de sua eleição, um velho bar onde até as cadeiras conhecem seu corpo, a sua maneira de sentar e de beber�€, mas tenho predileção por esta que fica no finalzinho da calçada, ela me permite uma panorâmica privilegiada. 

E é deste ângulo, refestelado em uma das cadeiras brancas de plástico, entre um trago e outro, que observo as pessoas que chegam e as que já estão lá, o que bebem e o que comem. O que vestem. Como riem. Como gesticulam. Enfim, adoro observar gente com ou sem adorno, anônima ou não.

Outra coisa interessante acontece no Zil: da zona sul, é o bar com maior teor de gente bebendo nas segundas-feiras. �‰ o que apresenta o maior índice de happy-hour per capita de Teresina, isso no primeiro dia útil de cada semana. Eu mesmo, tenazmente, faço parte dessa estatística, pois já tomei meus pilequinhos em princípios semanais por lá também. E não adianta se esquivar, se esconder; estar no Zil é estar sempre à tona, é estar de bem, é estar por cima, público e notório. Definitivamente, o Zil exerce esse fascínio irresistível sobre seus freqüentadores, especialmente sobre este escriba sagitariano que vos escreve essas mal traçadas linhas, e que fora da repartição leva a fama de expansivo e alegre.

O bar do Zil é o hábito corriqueiro dos protagonistas e coadjuvantes degustadores, é a pátria amada dos acompanhados e desacompanhados. �‰ a prévia do banho anti-stress, do roupão cem por cento de algodão, dos chinelos confortáveis antes de propriamente pisar na soleira da porta de casa depois de um dia enrugado de trabalho. Pensando bem, como afirmei no inicio da crônica, o bar do Zil será um local imortalizado de vez pelos os seus fregueses boêmios, abstêmicos, ébrios, sóbrios, ressacados, farristas, bairristas, careca ou cabeludo, não importa qual seja a sua marca; no bar do Zil sempre haverá uma garrafa gelada nos esperando.

Agora se me dão licença, vou pedir ao garçom que traga a minha de sempre. 


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