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Fim das férias

A porta de enrolar do cotidiano acaba de ser levantada

04/08/2015 07:44

Imagem: Google 

O despertador toca às cinco horas da manhã. O alarme, como buzina de navio, avisa que as férias partiram, sacudiram a toalha, tiraram à areia dos pés, e foram embora. O que dantes era sombra e água fresca, uma vista para o mar, uma barraquinha montada de frente para a tranquilidade, para o descanso merecido; agora é pura e simplesmente correria e correria. A porta de enrolar do cotidiano acaba de ser levantada. 

E nesse novo abrir de porta, nesse novo recomeço - desculpe a redundância, deve ser ainda o efeito das férias, por isso a lentidão da concordância - tudo está de volta, a começar pelas aulas do meu filho, que ao invés de se irem, voltaram. E aquele soninho que durava até mais tarde, até o sol se posicionar no azimute do despertar, esse também resolveu debandar. O sono agora madruga, o sono virou o moço leiteiro de madrugada com sua lata, como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade. 

Às sete da manhã, no primeiro dia útil do segundo semestre, na entrada da escola do meu estudante mirim, onde pai e filho acirram uma disputa inglória de bocejos, o sinal do fim das férias é mais sintomático, como é também para os outros pais e seus filhos que chegam numa sonolência de dar dó. Para essa gente, e eu me incluo no meio dessas gentes, o mês de agosto é recebido com desdém, pois é o grande vilão que roubou os dias de calmaria, é o vizinho indesejado do mês de julho, ou ainda, é aquela visita inesperada que nos pega com a casa toda desarrumada. 

Nas férias o ritmo da vida é condicionado, o passo é miúdo e sem pressa, tudo parece seguir a procissão rumo ao clube social da existência humana. Marcha-se para o sítio, para a fazenda, para a praia ou permanece onde se está, mas alheio ao som da fanfarra da agitação urbana. Refugia-se na vila do sossego cujo céu é tingido de um azul complacente e fica por lá por revigorantes trinta dias. Porém, basta o despertador anunciar a primeira aurora do retorno de tudo, o retorno das chateações, das filas de banco, das filas de lotérica, dos engarrafamentos para que o cenário paradisíaco das ferias seja desmontado e passe a ser apenas uma mera fotografia de recordação.       

                 

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