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A estudante que admirava a foto da Simone de Beauvoir

Sim, é ela mesma, a esposa do famoso filósofo Jean Paul Sartre, fazendo seu asseio no banheiro.

21/03/2015 10:26

Imagem: Google 

Ela sobe no ônibus do Planalto Ininga via shopping na José dos Santos e Silva, próximo a ADH. É uma moça mignon com o corte de cabelo Joãozinho, anda na moda, é muito lindinha. Lança um olhar para o fundo do coletivo, como quem busca um assento vago.

Carrega nos braços frágeis uma pilha de livros, pelo jeito é estudante de faculdade particular, porque destoa das demais moças humildes que estão no veículo, têm ares nobres.

O passageiro que está ao meu lado resolve descer, e a universitária aproveita para ocupar o lugar. Ao sentar, enxuga uma furtiva gota de suor que perpassa a testa. Depois abre um volumoso livro, tento flagrar o título, mas não consigo identificar, porém, na página em que ela abre, visualizo uma figura de uma mulher pelada em frente ao espelho com as duas mãos sobre a cabeça prendendo o cabelo.

Reflito um pouco ao ver a nudez da imagem, e, eureca! Reconheço a foto que a discente vislumbra até debaixo d’água: trata-se da Simone de Beauvoir. Sim, é ela mesma, a esposa do famoso filósofo Jean Paul Sartre, fazendo seu asseio no banheiro.

Curioso, viro o pescoço com um olhar estrábico para a fotografia, e logo suspiro: “oh, que lindo dorso tinha a escritora francesa!”

A figura feminista com traços mais femininos de todas, e que um dia vociferou, “não se nasce mulher, torna-se mulher”, é acariciada delicada e respeitosamente por uma de suas prováveis seguidoras. A jovenzinha pensativa, olha com admiração o retrato da senhora Beauvoir. Sua expressão é de alguém que tem alguma gratidão pela a autora do livro “O segundo sexo”, era como se devesse algo e tivesse determinada a pagar a dívida.

Mas, infelizmente, não pude ficar para perscrutá-la. Desceria no próximo ponto, no Shopping Riverside.

Existem pessoas que se entregam veementemente a uma causa, a um movimento, e ali, diante de mim, provavelmente estaria uma. Se desempenharia o papel de detentora do movimento feminista e existencialista em nossa cidade, como bem fez Lucie Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir pelo o mundo, eu realmente não saberia dizer.  

Talvez essa resposta, eu a tivesse caso ocorresse um novo encontro entre mim e a desconhecida do ônibus. 

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