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Stoner, John Williams

Após quase 50 anos de esquecimento, Stoner, de John Williams, volta a ser publicado

27/05/2015 10:12

Uma vida comum permeada de atos heroicos e de colossal covardia é como o romance Stoner pode ser descrito. Publicado em 1965, a obra teve pouco reconhecimento e por quase 50 anos ficou esquecida, sendo publicada novamente apenas em 2003, nos Estados Unidos. Agora, pela primeira vez, Stoner foi traduzida e lançada no Brasil pela editora Rádio Londres.

Narrado em terceira pessoa, contemplamos uma escrita sensível, elegante – que proporciona um mergulho intenso e humano nos dilemas de William Stoner. Aos 19 anos, o protagonista, filho de humildes agricultores, tem a oportunidade de estudar na Universidade de Columbia, cursando Ciências Agrárias, até o dia em que, por acaso, é obrigado a frequentar uma disciplina de introdução à Literatura e lá conhece o memorável professor Archer Sloane. E, assim, com incentivo do professor após o  doutorado, Stoner passa a lecionar  literatura na universidade durante toda a vida. 

As descrições são perfeitas e sinuosas, fluem com naturalidade e inteligência. Stoner conhece o amor tardiamente e, junto a isso, todas as implicações que uma relação pode proporcionar.Para ele, redenção e tristeza. Assistimos a um personagem profundamente afetado pela vida. Seja pela já remota vida no campo ou pelos infortúnios provenientes de qualquer existência. Sentimos com Stoner as marcas do viver penetrando o coração e alterando a face.

A literatura fornece ao protagonista a chance de vislumbrar as inúmeras camadas da vivência. Stoner viu as duas guerras mundiais acontecerem e carregarem consigo a vida de inúmeros jovens, deixando as salas da universidade vazias e desoladas. O amor ao conhecimento, a resignação amargurada são características que dão ao romance um tom de tristeza mitigada, seja pela necessidade de ir em frente ou pelo cansaço.

Há traços autobiográficos significativos. O autor (foto abaixo) também foi professor universitário de Literatura e sua origem também era rural e humilde.  Nessa segunda edição de Stoner, há um posfácio enriquecedor de Peter Cameron, que exalta qualidades e investiga algumas questões dubitáveis no enredo – deixadas propositadamente por John Williams. Sem dúvida, um dos maiores ganhos dos lançamentos literários do ano, Stoner detona qualquer coração.


Por: Ananda Sampaio

Revisão: Ceiça Souza

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