Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Nossos inícios de livros inesquecíves

Confira nossa lista!

11/11/2015 11:24

Para este post, nós, do Coletivo Leituras, dedicamo-nos a encontrar inícios marcantes de obras que lemos –uma tarefa bastante prazerosa, pois nos permitiu voltar a encontrar livros fundamentais em nossas histórias. Já ouvimos algumas pessoas dizerem que quando vão à livraria escolher um título avulso, leem os inícios dos livros para saber se a obra despertará interesse. Um critério interessante para quem deseja se aventurar por novos títulos e autores. Para fazer essa escolha difícil, sentamos diante da estante e relembramos com carinho desses livros listados abaixo.

Confira nossa lista!

Eulália Teixeira:

Um livro pode me pegar pelo início, principalmente se eu já souber o final. Ou seja, os motivos que levaram ao acontecimento e o desenvolvimento da história são aspectos extremamente importantes de uma boa obra. Lógico que depende de livro para livro, mas um começo pelo final, estórias que vão e voltam, tempos e espaços que se intercalam mexem muito comigo. Dentre os livros que seguem essa linha, cito três que me marcaram profundamente: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Feliz Ano Velho” e “Paula”. Li os três em épocas e momentos completamente diferentes da minha vida, e em circunstâncias também.

“Feliz Ano Velho” me prendeu logo com o parágrafo inicial. Lembro que tinha 12/13 anos e devorei a história de Marcelo Rubens Paiva em coisa de dois dias.

“Subi numa pedra e gritei:

– Aí, Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarçado.

Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeça no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiin.”

  O começo com o acidente, principalmente pela maneira como ele o descreveu, deixou-me curiosa sobre tudo daquele jovem que viu sua vida se transformar após um pulo. Um inocente pulo.

  Daí, deparei-me com Machado de Assis, poucos anos depois, mas como leitura obrigatória da escola. Enquanto meus amigos sofriam e amaldiçoavam aquele livro, eu me apaixonei pelo estilo machadiano ao me encontrar com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, primeira obra que li do escritor. A dedicatória foi o que me prendeu:

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

  E não larguei mais.

 Recentemente, li “Paula”, de Isabel Allende. Já havia lido “A Casa dos Espíritos”, e sabia o que iria encontrar neste livro. Uma simples frase do começo já me prendeu e me mostrou a riqueza e a declaração de amor dela à filha nas cerca de 400 páginas que eu tinha pela frente.

“Escute, Paula, vou contar uma história para que você não se sinta tão perdida quando acordar.”

  Mas também me encanto por inícios instigantes, e os que mais me marcaram posso dizer que foram “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, e “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.

  Clarice inicia o livro dizendo assim:

“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.”

  E Hemingway, com seu estilo direto, jornalístico, simples e profundo, já inicia “O Velho e o Mar” mostrando a beleza da relação entre Santiago e o garoto Manolin.

“Ele era um velho que pescava sozinho em um barco a remo na corrente do Golfo e estava com 84 dias sem pegar um peixe. Nos primeiros 40 dias um garoto o acompanhara. Mas depois de 40 dias sem um peixe, os pais do garoto disseram a ele que o velho estava agora definitivamente e finalmente salao, que era a pior forma de má sorte. O garoto tinha seguido as ordens dos pais e estava em outro barco o qual pescou três bons peixes na primeira semana.”

Laís Romero

Do livro Ficções, de Jorge Luís Borges, marca-me o início do conto“As ruínas circulares”:

“Ninguém o viu desembarcar na unânime noite, ninguém viu a canoa de bambu sumindo-se no lodo sagrado, mas em poucos dias ninguém ignorava que o homem taciturno vinha do Sul e que sua pátria era uma das infinitas aldeias que estão águas acima, no flanco violento da montanha, onde o idioma zenda não se contaminou de grego e onde é infrequente a lepra.”

Eu poderia destacar apenas a expressão ‘unânime noite’, que já carrega em si uma totalidade sonora e visual capaz de me transportar direto para o ambiente do conto de Borges. É um convite suave e que me acertou em cheio.

Raissa Sampaio

Escolhi o início de “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen:

“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa. Por pouco que os sentimentos ou as opiniões de tal homem sejam conhecidos ao se fixar numa nova localidade, essa verdade se encontra de tal modo impressa nos espíritos das famílias vizinhas que o rapaz é desde logo considerado a propriedade legítima de uma das suas filhas.”

O começo de “Orgulho e Preconceito” traz uma característica bem marcante da escritora e uma das que eu mais gosto: a ironia com que ela critica as convenções sociais, tais como o casamento e a fragilidade da mulher diante de uma sociedade machista. 

Luciana Lís

Uma obra marcante, desde o primeiro parágrafo, é “Água Viva”, de Clarice Lispector:

“É com alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor de separação mas grito é de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais. Continuo com capacidade de raciocínio – já estudei matemática que é loucura do raciocínio – mas agora quero plasma – quero me alimentar diretamente da placenta. Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar, pois o próximo instante é feito por mim? ou se faz sozinho? Fazemo-lo juntos com a respiração. E com uma desenvoltura de toureiro na arena.”

Já na primeira linha, Clarice Lispector dá o tom da epifania, da liberdade, da ruptura, da busca de si e de perguntas fundamentais que fazemos para nós mesmos enquanto tateamos no escuro da vida buscando o cerne de nossa existência e a tentativa de encontrar o nosso lugar do mundo.É um livro encantador!

Ananda Sampaio

“O Mar”, de John Banville

"Os deuses partiram no dia daquela manhã estranha. Durante toda a manhã, sob um céu leitoso, as águas da baía foram subindo, subindo, atingindo alturas inauditas, com pequenas ondas lambendo a areia ressecada que, por anos a fio não soube o que era umidade, a não ser pela chuva, e chegando até a base das dunas. Os despojos enferrujados do velho navio encalhado lá na entradada barra, e que, para qualquer um de nós, estavam naquele lugar desde sempre, devem ter achado que tinha chegado a hora de volta a navegar. Depois daquele dia, nunca mais nadei. As aves gritavam e mergulhavam do céu, parecendo perturbadas pelo espetáculo daquela imensa bacia cheia de água que inchava como uma bolha azul quase chumbo malignamente reluzente. Naqueles dias os pássaros estavam mais brancos, com uma cor nada natural. As ondas iam deixando uma faixa de espuma amarelada na areia. Nenhuma vela manchava a linha do horizonte. Não, não voltei a nadar depois desse dia. Nunca mais."

Escolhi esse início porque ele já mostra para o leitor o estilo sinuoso do Banville. A construção muito rítmica, detalhada e tortuosa. Sempre que o leio tenho a impressão de que as palavras dançam e formam um lindo bordado. Esse início já diz muito sobre o que virá: o mar, lembranças profundas e impactantes. Um super livro!

“Stoner”, de John Williams

"William Stoner entrou na Universidade do Missouri como calouro no ano de 1910 com a idade de 19 anos. Oito anos depois, no auge da Primeira Guerra Mundial, recebeu o diploma de doutorado e assumiu um cargo na mesma universidade, onde lecionou até a sua morte, em 1956. Nunca subiu na carreira acima da posição de professor assistente, e poucos estudantes se lembravam dele com alguma nitidez após terem cursado suas disciplinas. Quando morreu, seus colegas doaram à biblioteca da universidade um manuscrito medieval em sua memória. Esse manuscrito ainda pode ser encontrado no "Acervo de Livros Raros", com a seguinte inscrição: ‘Doado à Biblioteca da Universidade do Missouri. Em memória de William Stoner, departamento de inglês, por seus colegas’".

Li esse livro este ano e não pude deixar de me encantar com o protagonista. Uma pessoa comum, de uma vida comum, mas não menos interessante e vívida. O começo do livro, como você pode identificar, é tremendamente honesto. De antemão, o autor resume a vida do seu personagem e nos diz, nas entrelinhas, que vamos acompanhar apenas a história de um simples professor, que passou pela vida sem grandes feitos históricos. 

_

E aí, gostou na nossa lista? Comente conosco!

Você também pode acompanhar as nossas redes sociais!

Facebook: Coletivo Leituras

Twitter: @coletivoleitura

Instagram: @coletivoleituras

YouTube: Coletivo Leituras

Mais sobre: