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Livre, de Cheryl Strayed

Livro que inspirou filme conta a trajetória de superação de escritora

29/06/2015 09:41

“Livre” é uma biografia que conta parte da vida de Cheryl Strayed, escritora americana que resolveu revelar ao mundo sua trajetória, de quando decidiu fazer a trilha Pacific Crest Trail, que vai da fronteira dos EUA com o México até Washington. Esse percurso é famoso no país e passou a existir no final da década de 1960. A perda da mãe, Bobbi, que morreu menos dois meses após descobrir um câncer no pulmão, marcou profundamente Cheryl, fazendo com que ela entrasse numa profunda depressão. Drogas, relações sexuais desregradas –  uma vida caótica que a levou a experiências dolorosas, incluindo uma gravidez não desejada e o fim do casamento. Tudo isso fez com que Cheryl quisesse fazer a trilha sozinha, talvez movida, inicialmente, pelo desejo de se redimir. Carregando uma mochila extremamente pesada, que ela apelida de “Monstra”, e que é apenas a primeira das muitas dificuldades que se iniciam com costas doloridas pelo excesso de peso, calor e frio extremos; pés maltratados por uma bota de número menor ao seu; falta de fontes de água potável além de alimentos desidratados – mais fáceis de armazenar e que eram seu principal suprimento. 

Ao se deparar com a solidão, inevitavelmente, Cheryl repensa toda sua vida, as circunstâncias que a levaram àquela situação tão emocionalmente limítrofe e as escolhas que ela havia feito até então. Narrado em primeira pessoa, com muita coragem e sinceridade, parece que ela está contando para alguém bem próximo. Sexo, heroína são abordados muito abertamente. Cheryl não se vitimiza e não subestima sua própria capacidade de superação e análise. Muitas pessoas interessantes passam por ela – que também estão na trilha, em busca de respostas e do encontro consigo mesmos. Há ainda aqueles que fazem por diversão,  por desafio e há, também, os trilheiros profissionais – que já cumpriram o percurso várias vezes, que inclusive ajudam e esclarecem muitas das dúvidas de Cheryl. 

Foto: Talita Sampaio

A personagem da mãe e o relacionamento das duas é um dos maiores atrativos da leitura. A dor da perda e o desespero, de ter que continuar a viver sem a mãe é o que muda toda a vida de Cheryl, que tinha em Bobbi a pessoa mais importante da sua vida. A mãe era como um imã que unia todos os familiares em torno de si, após a perda, os familiares se distanciam, apesar dos esforços da própria Cheryl para que eles não se dispersassem. Os livros eram mais uma coisa que a aproximava da mãe, mesmo depois da perda, já que ambas adoravam ler. Cheryl leva muitos livros, que a farão companhia nos momentos mais solitários. Ela vai queimando as páginas lidas para aliviar o peso e para se aquecer. Preservando apenas o livro preferido de sua mãe. A escrita é fluida e os relatos se encaixam bem – através de elementos da trilha, ela vai recapturando lembranças fundamentais para o entendimento do que a levou até ali. Embora seja uma obra com grande teor emotivo, ao contrário do que se possa imaginar, ela mostra o lado forte da sua história e não se deixa levar pela sua própria fragilidade. 

As atrizes Reese Whiterspoon e Laura Dern interpretam, respectivamente, filha e mãe no filme de título homônimo. As duas receberam indicação ao Oscar em 2014. Na medida do possível, a adaptação é fiel, preservando os trechos mais significativos da biografia de Cheryl, conseguindo transparecer a potência da relação entre mãe e filha. Mesmo após assistir ao filme, é possível ler o livro e encontrar aspectos interessantes que auxiliam na melhor compreensão da mensagem que Cheryl quis passar. 


Por: Raissa Sampaio

Revisão: Ceiça Souza

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