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Colares de Xangô e sapatos bicolores, de William Kennedy

Romance faz parte do ciclo de Albany, série de histórias sobre a cidade natal do autor

20/05/2015 09:54

Em sua mais nova obra lançada pela Biblioteca Azul, William Kennedy divide  a história em dois momentos. O primeiro se passa em Havana, quando o jornalista estadunidense Daniel Quinn decide visitar o país que passa por uma turbulência política: o ditador Fulgêncio Batista está no poder e Cuba parece cada vez mais violenta. Tudo isso no ano de 1958, quando os rebeldes liderados, em parte, por Fidel Castro resistem e tentam a todo custo dar fim ao regime ditatorial de Batista.

Conhecemos uma Cuba permeada de misticismo, como a Santeria– que funde crenças católicas com a religião ioruba –, que dá um tom marcante nessa parte do romance. Daniel chega ao país inspirado pelo avô, que anos antes escreveu um livro sobre a revolução Mambí– que tinha a frente o lendário líder Manuel Céspedes. Lá ele conhece Renata Suárez, uma linda cubana que o ajuda a entender algo mais sobre as conspirações políticas e a máfia cubana. Vale destacar o encontro de Quinn com Fidel Castro – que está escondido nas Sierras. O jornalista aproveita a ocasião para entrevistar Castro e provar para o mundo que ele ainda está vivo. Hemingway também surge no enredo, mesmo que em breves aparições, a presença do escritor dá charme ao romance: personagem interessante, sempre que surge, selvagem e sensível como temos costume de imaginá-lo.

Na segunda parte, Daniel Quinn retorna a sua cidade natal nos EUA, Albany. Estamos em 1968 e o movimento negro pelos direitos civis está num momento crucial. Toda essa narrativa se passa em apenas 12 horas do dia 6 de junho de 1968, quando o candidato Bobby Kennedy é assassinado e causa comoção nos Estados Unidos. A cidade vive um dia tumultuado, brancos atacam os bares dos negros e vice-versa, gerando uma onda de violência. O pai de Daniel, George Quinn, é quem remonta, através de flashbacks, fatos da sua vida e da história de seu país. A vida difícil dos negros, o sistema "democrático" extremamente corrupto, a isenção da igreja católica, que não intervém para mudar a realidade absurda que vive a população negra. 

Destacamos, no romance, a construção convincente e sensível dos períodos revolucionários, tanto em Cuba quanto nos EUA. Aproximando, assim, duas realidades supostamente distantes. E demonstrando que a luta pela liberdade e por um mundo melhor é uma características do ser humano, independente de nacionalidade. Os personagens são subversivos, mas não heroicos. O autor nos desafia a compreender pessoas que viveram em períodos adversos a ponto de necessitarem participar e agir de maneira nem sempre dentro da legalidade: um padre que desafia a igreja, critica o sistema político e participa de projetos sociais; um jornalista que participa do contrabando de armas; ou jovens que se lançam em ações praticamente suicidas para acabar com a opressão de um regime ditatorial. Jazz, prostitutas, misticismo, revolução são palavras-chave para esta maravilhosa obra.

William Kennedy (foto abaixo), renomado escritor, é cultuado pela crítica e pelo público. Já ganhou um Pulitzer por Ironweed, publicado em 1983.



Por: Ananda Sampaio

Revisão: Ceiça Souza

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