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Tempo e eternidade

Artigo filosófico

27/12/2016 20:32

TEMPO E ETERNIDADE

Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

Do tempo julgamos saber muito, pelo menos do tempo em que vivemos entre o nascimento e a morte. E o antes? E o depois? Do passado, somente através da história. E do futuro pelas premonições, profecias, etc. Aliás tem um ditado que proclama que “o futuro a Deus pertence”. Eu digo, sem nenhuma intenção de fazer trocadilho: “Se soubéssemos do nosso futuro, então o futuro não teria futuro nenhum”.

Do tempo em que vivemos é que deveríamos saber mais. Mas como, se a maioria da população, do mundo não sabe nada, ou quase nada? Quando você nasceu? Meus pais me disseram e me registraram como sendo em tal data, mês e ano. E eis que chega alguém e pergunta, de chofre, a você: quantos são hoje, qual o mês, qual o ano? Normalmente olha-se no calendário, para ter certeza. E quem fez o relógio? E o calendário? Por que foi feito? Para que o homem não se perdesse no tempo, que para a vida de cada um é limitado, e assim pudesse realizar alguma coisa. Observando o sol, a lua, as estrelas, daí nasceram todas as marcações do tempo que julgamos conhecer, pois há o tempo psicológico, o tempo interno da alma humano, do ego – este muito mais difícil de medir (impossível até), de perceber, de dominar.

Na minha filosofia de poeta, o homem (e a mulher também, é claro) é aquilo que faz. Se nada faz não é nada, se não faz nada não tem nada, não tem história pra contar, perde-se no tempo. É isto ou estou falando besteira?

Neste caso, os maiores homens seriam os poetas porque “poesia”, na sua origem grega, significa fazimento, ação criação. Ou seja, o homem primeiro fez sua casa, sua poesia, seja a caverna de ontem, seja o palácio de hoje. Nós humanos fizemos, no tempo, a língua, as línguas. O poeta usa a língua para fazer poesia. Os homens, em geral, usam a língua para se comunicarem e, assim, vencer a solidão e agarrar o seu tempo, entretendo-se, trabalhando ou pensando. O pensamento sem a palavra física (ouvida, falada, escrita) certamente fica limitado, por mais que os outros órgãos do sentido ajudem.

Entretanto, o homem ganhou consciência do tempo, após o fim do crescimento do cérebro e, através da linguagem e vivência, aprendeu que seu tempo é limitado. Vem a morte, é preciso fazer alguma coisa e deixar aos outros sua memória. Toda a civilização cresceu assim, fez-se dessa forma, em atos comezinhos para nós, hoje.

A marcação do que foi feito sobre o movimento dos astros é prática necessária. Resta saber do tempo da terra, dos planetas, do universo. Lá pelos confins o tempo se acaba, os planetas morrem e começa a eternidade. Como, sem o tempo?

A eternidade é o tempo sem fim. Será mais do que isto?

Aí vem as religiões. E proclamam que há eternidade, quando o homem falece. Mas, se os planetas, as estrelas, o universo se consomem e quando se consomem, para onde vamos nós? Ou a lei de Lavoisier está correta: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. O universo é só natureza ou é mais do que isto?

Se tudo se transforma, então o tempo se transforma, porque ele nada mais é do que a relação entre a matéria e o movimento. Então, a realidade existente se encerra em duas coisas: matéria e movimento. O tempo comum é ficção do cérebro humano, os cientistas sabem disto. Aliás, numa frase irônica, o sábio Albert Einstein, cientista que descobriu a lei da relatividade, encarregou-se de matar a eternidade. A frase é a seguinte:

“Somente duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. E não estou seguro quanto à primeira”.

Bem, creio nem devíamos mais seguir buscando o que é a eternidade, de Einstein. Mas, como sou estúpido, penso que a eternidade se resumo no tempo que gastamos, que também é velocidade, também é nossa relação com nosso corpo e todo o universo, que por sua vez não é eterno. Socialmente, o tempo são as nossas relações com os outros, todos diferentes de nós. Fazemos rotação em torno deles, mas não os invadimos – e quando invadimos é pecado, é crime.

Agora, meu leitor me acorda e cita Dostoiévski:

“Deus existe, porque, se ele não existisse tudo seria permitido”.

A eternidade está em Deus, aquele Deus que não conhecemos porque “somos uma parte infinitamente pequena dele, e a parte jamais conhecerá o todo”. Aqui tento concordar com outro filósofo: Spinoza, - se não me engano, pelo pensamento central de sua obra filosófica.

De forma que o saber vem a ser a acumulação dos conhecimentos da história, do passado no presente, e a eternidade – se é que ela existe mesmo – está onde não estamos e nem sabemos onde ela fica. Se é noutro universo, precisamos descobrir. A ciência não cessa de procurar, mas essa descoberta não vai ser para a gente saber tão cedo, nesta vida.

E há outras vidas? Ou apenas esta? Se somos carne (matéria) e (espírito), para onde vai este último, depois da morte que, como acreditamos, é a separação dos dois?

Não acredito que meus leitores tenham ficado satisfeitos com minha peroração filosófica. Mas, afinal, foi o que pude trazer. Espero continuar estudando o assunto, conhecendo mais, acreditando um pouco e duvidando outro tanto. Também receber as sugestões.

Será que os termos de que tratamos aqui são todos ficção e somente a vida é o que existe? A vida animal? A vida vegetal? E a vida mineral?

Fonte: Francisco Miguel de Moura - Artigo original
Edição: Revista Cirandinha - de Francisco Miguel de Moura
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