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POBREZA E MASSIFICAÇÃO ANDAM JUNTAS

Artigo crítico

16/03/2016 19:31

  POBREZA E MASSIFICAÇÃO ANDAM JUNTAS

  Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

São duas coisas terríveis, dois males que se acoplam ou andam juntos, no mesmo passo e espaço. A satisfação com o que já está pronto e posto, “o está aí” como se diz, já é uma pobreza de espírito. E esta comanda os demais tipos de pobreza, sem dúvida.

Pobre não pensa, ou se pensa é igual a todos os pobres. Esclarecemos que todos não nascem para ser ricos ou para ser pobres. Nem poderia o mundo ser apenas de ricos e poderosos. Mas também como seria um mundo todo só de pobres? Nascemos para viver, já é um grande bem alcançado: a vida. E nisto somos todos iguais. Mas, daí, o que fazer com ela, a vida?

“A vida é combate / que aos fracos abate / que aos fortes, aos bravos / só faz exaltar”, foi assim que escreveu o grande poeta indianista Gonçalves Dias.

Nas minhas conversas caseiras, com os filhos e os vizinhos, ou com amigos mais próximos, tenho dito e repetido que só é pobre (falo aqui do pobre miserável mesmo), quem quer. Aqui, mais do que nunca, “querer é poder”. Mas é preciso saber querer. Não adianta nada ficar olhando, admirado e invejando os bens dos outros. Se uma pessoa ganha um salário, ou o equivalente numa atividade particular, por conta própria (aqui só se fala em atividade lícita), está claro que não deve gastar todo, todinho. Deve deixar algo para o dia seguinte, pois o amanhã pode ser amargo, ser despedido ou não vender o que queria vender (banana, missangas, obra artesanal, etc.). E por aí vai: “De grão em grão, a galinha enche o papo” e se não quiser esta sabedoria popular, mude pra outra: “devagar se vai ao longe, é preciso persistência”.

Mas se o pobre começa a ver as coisas oferecidas em qualquer parte, do rádio à televisão, nos jornais, nas ruas, com olhos gulosos de idiota, logo-logo se massificará: quer uma conta no banco, um cartão de crédito, “abraçar o mundo com as pernas”, jamais sairá da pobreza. Só é pobre quem quer, não é frase banal. Agora, ser rico, não! Se você quer ser rico, não pense nisto: “Quem não rouba nem herda, enrica é merda”.

Pobre inteligente não cai na mídia, se não sabe ler, logo-logo vai encontrar quem queira ensiná-lo a ler, escrever e contar, pois são necessidades da vida. Escolas do Governo, da comunidade, ou de alguma daquelas pessoas que se prestam a fazer o bem da humanidade. No dia-a-dia, se alguém lhe der o peixe, fuja dele. Vamos buscar apreender a pescar e terá sempre e sempre coragem, vontade e fé para possuir mais: peixe e outras coisas. Esmolas empobrecem o espírito. A cidadania se conquista pelo espírito, com trabalho, estudo, paciência, amor, respeito ao próximo e desejo de independência. Não é por nada não, mas a verdade curta e certa é que ninguém dá nada (material) a ninguém, senão esperando receber no mínimo o dobro. E esse dobro ele vai tirar de você, do seu sócio, do seu amigo, do seu vizinho.

Ser pobre é não ter vontade (alma), coragem de enfrentar a vida que deve ser vivida de forma digna: Esta, a alma, sim, foi recebida de graça, mas pela vontade poderosa e misteriosa de Deus e não das vaidades do homem.

A pobreza é um passo para a massificação, pensar igual a todos: “não tem jeito não, quem nasce pobre, morre pobre”. E aí começa a sentir inveja dos que têm, seja por uma aquisição ética ou não.

Riqueza, ao contrário do que muitos ingênuos pensam ainda, é ter perspectiva, ter espírito de inventar, criar, conseguir. É antes de tudo aprender e conservar a sabedoria dos velhos e dos que viveram antes. “Os mortos nos comandam”, não sei quem disse ou escreveu. Mas é uma sabedoria histórica e para a história. Riqueza não é ostentação, é conhecimento e sabedoria (no bom sentido) também Riqueza com moralidade e ética é abençoada por Deus. Quem inventou que Jesus queria todos iguais, não leu as biografias de Jesus e muito menos a Bíblia, um livro milenar de sabedoria. Quase já finalizando a nossa dissertação, cito o Pe. Nilo Luza, ssp, num artigo divulgado no jornalzinho que a gente recebe quando vai assistir a missa de domingo, em qualquer paróquia: “Eis as grandes tentações da humanidade, nos tempos modernos: a busca e concentração do poder, quando deveria ser democratizado e se transformar em serviço; a concentração da riqueza, quando deveria ser partilhada para que todos tenham condições de vida digna. A concentração da riqueza e do poder favorece o acúmulo e o consumismo (cuidado, leia corretamente) desenfreados. Uma sociedade que cultiva o consumismo (idem) e a satisfação egoísta é deserto propício para a falta de solidariedade e a violência. Como conseqüência destas, há a busca de uma vida de aparências, a qual afronta e humilha os pobres”.

Uma interpretação rigorosa e percuciente do texto acima, colocado para o Brasil de hoje, dá chicotadas no poder político e na situação difícil que atravessamos. Não há bolsas-famílias que suportem (digo, seus coitados beneficiários), não há câmaras, governos e partidos que não sejam atingidos.

Os meus leitores hão devem ter percebido a doutrina social da Igreja Católica preenchida e as críticas ao governo, jamais uma pregação do comunismo. E por falar esta palavra tão fora do abecedário teórico da filosofia política moderna, quero terminar citando uma frase que li não sei onde, nem quem é o autor, no entanto, até certo ponto correta e engraçada: “O SER HUMANO É COMUNISTA ATÉ FICAR RICO; FEMINISTA, ATÉ CASAR-SE; E ATEU ATÉ O AVIÃO COMEÇAR A CAIR”.

 

Fonte: Autor: Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel)
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