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Obra importante: tese da professora Cristiane Pinheiro

Artigo de Chico Miguel

02/10/2017 10:07

OBRA IMPORTANTE: TESE DA PROFESSORA CRISTIANE PINHEIRO

Francisco Miguel de Moura*. 

Há alguns meses recebi um volumoso livro, ainda apenas digitado, mas já no ponto de ser editado. Trata-se de uma obra do maior interesse para o Piauí. É a tese da Professora. Cristiane Feitosa Pinheiro, Professora Titular no Campus da Universidade Federal de Picos. Título de sua tese de doutorado, prestada oralmente aqui em Teresina, diante do corpo de professores da Reitoria da Universidade Federal do Piauí, doutores daqui e de outros Estados. Nome da tese que doutorou a Professora. Cristiano Feitosa Pinheiro: “ENTRE O GIZ E A VIOLA: PRÁTICAS EDUCATIVAS DO MESTRE-ESCOLA MIGUEL GUARANI NO VALE DO RIO GUARIBAS(1938-1971)”.

Esta, sim, é uma obra de peso e medida. A Universidade já deveria estar se preparando, se é que não começou, a publicá-la para, inclusive, melhorar suas publicações de teses, às vezes sem muito conteúdo,outras enviesadas para o lado de teorias e dogmatismos estranhos e desnecessários ao nosso meio.

Mas o que acontece com a tese de doutorado da Professora. Cristiane Pinheiro é bem diferente: Trata do problema educacional no Piauí exatamente com foi no interior do Estado e como, certamente, ainda continua problemática, quando miseravelmente pouco atacado pelas autoridades e quando assim, de forma distorcida, sem observar o passado. 

O passado nos ensina.
Um simples mestre-escola do interior de Picos, mais precisamente do Vale do Guaribas e de seu afluente, o Riachão, trouxe à baila seu grande trabalho em favor das populações daquele interior esquecido, depois desassistido. Miguel Borges de Moura (Guarani) na verdade era bastante conhecido em todo aquele interiorizarão, pois era como que um faz de tudo, desde que para servir os seus conterrâneos e os seus filhos, livrando-os do analfabetismo e indo muito além, pois lecionava o que seria equivalente ao Exame de Admissão ao Ginásio (que ainda não existia no grande burgo – a cidade de Picos). Matéria que ensinava: Português, Aritmética, Geografia, História Geral e do Brasil, além de rudimentos de Ciências.
Quando, no final do século XIX, iniciei a pesquisa sobre Mestre Miguel Guarani, meu pai, ele já não era vivo (faleceu em 07-08-1971). Mas trabalhou incansavelmente até o falecimento, ensinando às crianças, adolescentes e adultos, aquelas matérias e mais: as regras do bem viver, como se chamava a moral e a conduta das pessoas na sociedade, pois ele lecionava também religião. Minha pesquisa durou desde o tempo do seu falecimento até o finalzinho daquele século. Somente em 2005 foi possível publicar o livro de minhas pesquisas e memórias sobre ele, com o título nada pomposo – apenas explicativo: “Miguel Guarani – Mestre e Violeiro”.
Não falei ainda da aquisição desse saber de Mestre Miguel sobre a poesia popular e as cantorias tão comuns no Nordeste. No começo fazia cantorias somente acompanhado, ou melhor, combatendo outro cantador, em versos excelentes perfeitamente improvisados. Foi nessa época que impressionado com o que meu pai fazia, da forma como fazia e gradeza dos seus gestos como Mestre. Ouvindo sua primeira cantoria (depois ouvi muitas), tornei-me realmente seu fã mais do que já era e comecei a entender quão grande era sua inteligência e generosidade, pois não trabalhava por dinheiro,o que ganhava era suficiente (para ser otimista), suficiente para sustentar a família em suas necessidades essenciais. E o que ganhava um Mestre Escola? Melhor nem falar e sentir como o professor nunca foi aquinhoado como devia pelo seu duro trabalho. Professor é um abnegado, que se sacrifica sem saber porquê. Ou melhor, sabe? É bem bem da comunidade sem esperar recompensa.
Poderia falar muito mais do que está no livro que escrevi e mencionei acima, mas acho desnecessário, visto que a Professora Cristiane Pinheiro fez uma pesquisa das mais profundas sobre o assunto, que colocou na tese, entrevistando pessoas que hoje estudam, trabalham ou são professores da Universidade.
Colocando aqui um trecho de sua dissertação, acho que não cometo nenhum pecado, mesmo sem a permissão dela, a autora, grande autora, grande criadora, grande mestra: 
“Mestre Miguel de Moura adquiriu na experiência da sala de aula – casas, fazendas, povoados- as estratégias necessárias para exercer o ofício de mestre, fortalecer as raízes da profissão docente em Picos e adquirir respeito na sociedade em que estava inserido.

Diante de todo o cenário apresentado, resta perguntar: Como se deu o processo de formação e atuação do meste-escola Miguel Borges de Moura, nas comunidades rurais picoenses, através das veias líquidas do Guaribas?” 

A resposta que faz, como estratégia, está toda, e com minudências, no livro tese da Professora Cristiane Feitosa Pinheiro, de 281 páginas. Quando iremos lê-lo em todo o seu teor, em livro publicado pela Universidade Federal do Piauí? Ela, a Universidade, tem o dever de tornar esta tese pública, não apenas pela internet, mas também como livro de papel, para servir de modelo à demais que então se fazem. Sim servir de modelo, sem nenhum desdouro.

Quanto a mim, cabe agradecer penhoradamente o presente que ela me fez e à Educação Piauiense/Picoense, louvando-se, em grande parte, nas obras “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro” e “O Menino quase Perdido”, ambos de minha autoria. Mais no primeiro que no segundo, que é apenas um complemento do que eu havia começado a pesquisar e contar.
É claro que a Professora Cristiane Pinheiro presta um inestimável serviço à História da Educação do Piauí, quiçá do Brasil, pois ambas se confundem no que denominada História. Só o futuro reconhecerá.
Não importa. Importante é fazer o que se tem de fazer e fazê-lo bem-feito, para o conhecimento das futuras gerações de estudantes e professores. É isto que acabamos de pincelar sobre o trabalho da Professora Cristiane Pinheiro, da Universidade Federal do Piauí, servindo no Campus de Picos.

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*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, membro da Academia Piauiense de Letras (APL) e da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP)

Fonte: Blog de Chico Miguel
Edição: Artigo de Chico Miguel
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