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MORRE O ESCRITOR HÉLIO PÓLVORA - ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Notícia jornalística - SALVADOR - BA

26/03/2015 20:18

Qui, 26/03/2015 às 09:29 | Atualizado em: 26/03/2015 às 12:04

Morre aos 86 anos escritor baiano Hélio Pólvora

Thaís Seixas

Tags: Morte do Escritor Hélio Pólvora Salvador Agora

  • Haroldo Abrantes | Ag. A TARDE | 10.09.2008

    Hélio Pólvora era articulista do Jornal A TARDE

Morreu na madrugada desta quinta-feira, 26, aos 86 anos, o escritor baiano Hélio Pólvora, que ocupava a cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia (ALB) desde 1994. Além de escritor, ele também era jornalista, cronista e atuava como editorialista e articulista do Jornal A TARDE - no Caderno 2 e na coluna Opinião - tendo trabalhado ativamente até esta quarta-feira, 25, na produção do editorial. 

Hélio lutava contra um câncer de pulmão e sofreu uma parada cardiorrespiratória, vindo a falecer em casa. O corpo do jornalista será cremado no cemitério Jardim da Saudade na tarde desta quinta, às 17h30.

Para o escritor Luís Antonio Cajazeira, que ocupa a cadeira 35 da Academia de Letras da Bahia e também era amigo de Hélio, a Bahia perde um importante expoente da literatura.

Leia um dos textos publicados por Hélio Pólvora

31/01/2015 | Comentários(0)

Amanhã e amanhã e amanhã

"Ele era, sem dúvida, a maior expressão das Letras da Bahia na atualidade e nosso maior contista brasileiro. Desde Machado de Assis, o Brasil não tinha um contista com tamanho rigor como o dele. Lançou romances mesmo em idade já avançada, além de ter sido um grande jornalista, crítico e cronista. Eu era amigo e também um grande admirador dele", ressalta o escritor.

O jornalista, escritor e poeta Florisvaldo Mattos, ex-editor-chefe do Jornal A TARDE, lembra que Hélio foi um dos mais criativos e competentes colaboradores do extinto Caderno Cultural, "com textos de alta qualidade, sempre enriquecedores". "Era um bom amigo, um dos mais cultos intelectuais baianos e a melhor escrita da Bahia, na minha opinião". 

Mattos também publicou um poema (veja abaixo) e uma mensagem em homenagem ao amigo, em que lembra sua trajetória profissional e se diz "orgulhoso, pois, além disso, fui seu colega, por bastante tempo, no quadro de jornalistas do célebre e saudoso Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Com sua morte, perdem o jornal e seus leitores, como também a Bahia um grande intelectual e escritor".

O editor-coordenador da página de Opinão de A TARDE, Jary Cardoso, onde Hélio semanalmente publicava seus artigos falou do seu compromisso profissional. "Na semana retrasada, uma quinta-feira, recebi recado da esposa de Hélio, dizendo que ele estava sendo levado ao Hospital São Rafael e que queria falar comigo. Liguei, Hélio ainda estava a caminho da internação e apesar da fraqueza e a voz embargada, manifestou, como um profissional responsável, a preocupação com o artiguete que ele escrevia aos domingos." 

Ciente de seu compromisso profissional, Hélio previu que não conseguiria entregar o texto. "Sosseguei-o dizendo que encontraria um bom artigo para substituir o dele e que colocaria no rodapé a informação aos leitores de que excepcionalmente Hélio Pólvora não escreveria naquele domingo. Infelizmente, nesta quinta-feira, novamente no dia de ele enviar o artigo de domingo, Hélio faleceu. Ao contar aquele episódio a seu conterrâneo, o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, este comentou que a atitude dele era própria de um profissional da escrita: 'Hélio Pólvora é sobretudo um escritor'".

Nascido no município de Itabuna, Hélio Pólvora era um dos nomes mais destacados de escritores oriundos da região cacaueira da Bahia. Ele deixa a esposa, Maria, e dois filhos, Raquel e Helinho.

Luto

A Academia de Letras da Bahia decretou luto de três dias pela morte do escritor e suspendeu os eventos que aconteceriam nesta quinta: a seção de transmissão do cargo de presidente e o lançamento da revista institucional, que só serão realizados daqui a duas semanas.

"Hélio é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É uma glória para a literatura nacional. O patrimônio literário que ele nos deixa é de um valor inestimável. Além de um homem que se dedicou à familia e à literatura, era um intelectual brilhante e possuía uma cultura extraordinária. E escreveu até o último minuto, pois até ontem (quarta) escreveu para o A TARDE", revela Aramis Ribeiro Costa, presidente da ALB.

Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) lamentou o falecimento do escritor e transmitiu pesar aos familiares e amigos.

Biografia

Hélio Pólvora de Almeida é natural de Itabuna, Bahia, onde nasceu em 1928, em fazenda de cacau. Fez estudos secundários em Salvador, no Colégio Dois de Julho, Colégio Carneiro Ribeiro e Colégio da Bahia. Iniciou-se no jornalismo como colaborador e editor do semanário Voz de Itabuna, e mais adiante foi correspondente em sua cidade de jornais de Salvador. Em janeiro de 1953 fixou-se no Rio de Janeiro, para curso universitário, onde morou por cerca de 30 anos. Foi lá que ele iniciou sua carreira literária e uma atividade jornalística intensa, que prosseguiram na Bahia após 1984, nas cidades de Itabuna, Ilhéus e Salvador.

Seu primeiro livro públicado foi "Os Galos da Aurora" (1958, reeditado em 2002, com texto definitivo). Depois dele, seguiram-se cerca de 25 títulos de obras de ficção e crítica literária, além de participação em dezenas de antologias nacionais e estrangeiras. Seus contos estão traduzidos em espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e holandês.

A partir de 1990, passou a residir em Salvador. Eleito para a Cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia, faz parte também da Academia de Letras do Brasil (com sede em Brasília), onde ocupa a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Pertence ainda à Academia de Letras de Ilhéus.

É Doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz .Fez parte da Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, para reconstituir os textos e reeditar a obra do Mestre, e integrou a Comissão Selo Bahia, criada pela Secretaria da Cultura e do Turismo, no âmbito da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

Leia o poema publicado em homenagem a Hélio Pólvora

SAFRA DE SOMBRAS

That is no country for old men, the young
In one another’s arms, birds in the trees.
W.B.Yeats*

A Hélio Pólvora

É; foi-se o tempo de plantar cacau:
Não é mais um ofício para jovens.

Grandes nuvens de crinas esvoaçadas,
Esparramadas no azul – soltas setas –
Galoparam sedentas de outros mapas.

A terra agora espectro de agra face,
Paragens somente para ossos (frios),
Esqueletos que são aves em ramos,
E até bem pouco não era assim (saibam):
O chão se abria a sonhos e sussurros,
soluço (único) de água mensageira,
E lá vinham pérolas entre musgos,
ametistas suando ao verde sob chuva.

O sol gretou os seios da morena,
sinhá-moça que veio de Belmonte,
intumesceu os olhos generosos.
E fez mais: as almas ressecou,
E os antes desasselvajados rios,
(Mirai) hoje somente veias secas,
E semblantes que vagam nas estradas,
Safra de sombras, ai, dever de velhos.

*Terra aquela não é que sirva para ancião.
Os moços a abraçar-se, as aves a cantar
Nas árvores (...)

Versos do poema de Yeats, "Velejando para Bizâncio" (Sailing to Byzantium), em tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.


Copyright © 1997 - 2015 Grupo A TARDE.Todos os direitos reservados. Rua Prof. Milton Cayres de Brito n° 204 - Caminho das Árvores - Salvador/BA. CEP: 41.820 - 570 Tel.: ( 71 ) 3340 - 8500 | Redação: ( 71 ) 3340 - 8800

madrugada desta quinta-feira, 26, aos 86 anos, o escritor baiano Hélio Pólvora, que ocupava a cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia (ALB) desde 1994. Além de escritor, ele também era jornalista, cronista e atuava como editorialista e articulista do Jornal A TARDE - no Caderno 2 e na coluna Opinião - tendo trabalhado ativamente até esta quarta-feira, 25, na produção do editorial. 

Hélio lutava contra um câncer de pulmão e sofreu uma parada cardiorrespiratória, vindo a falecer em casa. O corpo do jornalista será cremado no cemitério Jardim da Saudade na tarde desta quinta, às 17h30.

Para o escritor Luís Antonio Cajazeira, que ocupa a cadeira 35 da Academia de Letras da Bahia e também era amigo de Hélio, a Bahia perde um importante expoente da literatura.

Leia um dos textos publicados por Hélio Pólvora

31/01/2015 | Comentários(0)

Amanhã e amanhã e amanhã

"Ele era, sem dúvida, a maior expressão das Letras da Bahia na atualidade e nosso maior contista brasileiro. Desde Machado de Assis, o Brasil não tinha um contista com tamanho rigor como o dele. Lançou romances mesmo em idade já avançada, além de ter sido um grande jornalista, crítico e cronista. Eu era amigo e também um grande admirador dele", ressalta o escritor.

O jornalista, escritor e poeta Florisvaldo Mattos, ex-editor-chefe do Jornal A TARDE, lembra que Hélio foi um dos mais criativos e competentes colaboradores do extinto Caderno Cultural, "com textos de alta qualidade, sempre enriquecedores". "Era um bom amigo, um dos mais cultos intelectuais baianos e a melhor escrita da Bahia, na minha opinião". 

Mattos também publicou um poema (veja abaixo) e uma mensagem em homenagem ao amigo, em que lembra sua trajetória profissional e se diz "orgulhoso, pois, além disso, fui seu colega, por bastante tempo, no quadro de jornalistas do célebre e saudoso Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Com sua morte, perdem o jornal e seus leitores, como também a Bahia um grande intelectual e escritor".

O editor-coordenador da página de Opinão de A TARDE, Jary Cardoso, onde Hélio semanalmente publicava seus artigos falou do seu compromisso profissional. "Na semana retrasada, uma quinta-feira, recebi recado da esposa de Hélio, dizendo que ele estava sendo levado ao Hospital São Rafael e que queria falar comigo. Liguei, Hélio ainda estava a caminho da internação e apesar da fraqueza e a voz embargada, manifestou, como um profissional responsável, a preocupação com o artiguete que ele escrevia aos domingos." 

Ciente de seu compromisso profissional, Hélio previu que não conseguiria entregar o texto. "Sosseguei-o dizendo que encontraria um bom artigo para substituir o dele e que colocaria no rodapé a informação aos leitores de que excepcionalmente Hélio Pólvora não escreveria naquele domingo. Infelizmente, nesta quinta-feira, novamente no dia de ele enviar o artigo de domingo, Hélio faleceu. Ao contar aquele episódio a seu conterrâneo, o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, este comentou que a atitude dele era própria de um profissional da escrita: 'Hélio Pólvora é sobretudo um escritor'".

Nascido no município de Itabuna, Hélio Pólvora era um dos nomes mais destacados de escritores oriundos da região cacaueira da Bahia. Ele deixa a esposa, Maria, e dois filhos, Raquel e Helinho.

Luto

A Academia de Letras da Bahia decretou luto de três dias pela morte do escritor e suspendeu os eventos que aconteceriam nesta quinta: a seção de transmissão do cargo de presidente e o lançamento da revista institucional, que só serão realizados daqui a duas semanas.

"Hélio é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É uma glória para a literatura nacional. O patrimônio literário que ele nos deixa é de um valor inestimável. Além de um homem que se dedicou à familia e à literatura, era um intelectual brilhante e possuía uma cultura extraordinária. E escreveu até o último minuto, pois até ontem (quarta) escreveu para o A TARDE", revela Aramis Ribeiro Costa, presidente da ALB.

Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) lamentou o falecimento do escritor e transmitiu pesar aos familiares e amigos.

Confira o vídeo com o escritor:

Biografia

Hélio Pólvora de Almeida é natural de Itabuna, Bahia, onde nasceu em 1928, em fazenda de cacau. Fez estudos secundários em Salvador, no Colégio Dois de Julho, Colégio Carneiro Ribeiro e Colégio da Bahia. Iniciou-se no jornalismo como colaborador e editor do semanário Voz de Itabuna, e mais adiante foi correspondente em sua cidade de jornais de Salvador. Em janeiro de 1953 fixou-se no Rio de Janeiro, para curso universitário, onde morou por cerca de 30 anos. Foi lá que ele iniciou sua carreira literária e uma atividade jornalística intensa, que prosseguiram na Bahia após 1984, nas cidades de Itabuna, Ilhéus e Salvador.

Seu primeiro livro públicado foi "Os Galos da Aurora" (1958, reeditado em 2002, com texto definitivo). Depois dele, seguiram-se cerca de 25 títulos de obras de ficção e crítica literária, além de participação em dezenas de antologias nacionais e estrangeiras. Seus contos estão traduzidos em espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e holandês.

A partir de 1990, passou a residir em Salvador. Eleito para a Cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia, faz parte também da Academia de Letras do Brasil (com sede em Brasília), onde ocupa a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Pertence ainda à Academia de Letras de Ilhéus.

É Doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz .Fez parte da Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, para reconstituir os textos e reeditar a obra do Mestre, e integrou a Comissão Selo Bahia, criada pela Secretaria da Cultura e do Turismo, no âmbito da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

Leia o poema publicado em homenagem a Hélio Pólvora

SAFRA DE SOMBRAS

That is no country for old men, the young
In one another’s arms, birds in the trees.
W.B.Yeats*

A Hélio Pólvora

É; foi-se o tempo de plantar cacau:
Não é mais um ofício para jovens.

Grandes nuvens de crinas esvoaçadas,
Esparramadas no azul – soltas setas –
Galoparam sedentas de outros mapas.

A terra agora espectro de agra face,
Paragens somente para ossos (frios),
Esqueletos que são aves em ramos,
E até bem pouco não era assim (saibam):
O chão se abria a sonhos e sussurros,
soluço (único) de água mensageira,
E lá vinham pérolas entre musgos,
ametistas suando ao verde sob chuva.

O sol gretou os seios da morena,
sinhá-moça que veio de Belmonte,
intumesceu os olhos generosos.
E fez mais: as almas ressecou,
E os antes desasselvajados rios,
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O editor-coordenador da página de Opinão de A TARDE, Jary Cardoso, onde Hélio semanalmente publicava seus artigos falou do seu compromisso profissional. "Na semana retrasada, uma quinta-feira, recebi recado da esposa de Hélio, dizendo que ele estava sendo levado ao Hospital São Rafael e que queria falar comigo. Liguei, Hélio ainda estava a caminho da internação e apesar da fraqueza e a voz embargada, manifestou, como um profissional responsável, a preocupação com o artiguete que ele escrevia aos domingos." 

Ciente de seu compromisso profissional, Hélio previu que não conseguiria entregar o texto. "Sosseguei-o dizendo que encontraria um bom artigo para substituir o dele e que colocaria no rodapé a informação aos leitores de que excepcionalmente Hélio Pólvora não escreveria naquele domingo. Infelizmente, nesta quinta-feira, novamente no dia de ele enviar o artigo de domingo, Hélio faleceu. Ao contar aquele episódio a seu conterrâneo, o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, este comentou que a atitude dele era própria de um profissional da escrita: 'Hélio Pólvora é sobretudo um escritor'".

Nascido no município de Itabuna, Hélio Pólvora era um dos nomes mais destacados de escritores oriundos da região cacaueira da Bahia. Ele deixa a esposa, Maria, e dois filhos, Raquel e Helinho.

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"Hélio é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É uma glória para a literatura nacional. O patrimônio literário que ele nos deixa é de um valor inestimável. Além de um homem que se dedicou à familia e à literatura, era um intelectual brilhante e possuía uma cultura extraordinária. E escreveu até o último minuto, pois até ontem (quarta) escreveu para o A TARDE", revela Aramis Ribeiro Costa, presidente da ALB.

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A partir de 1990, passou a residir em Salvador. Eleito para a Cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia, faz parte também da Academia de Letras do Brasil (com sede em Brasília), onde ocupa a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Pertence ainda à Academia de Letras de Ilhéus.

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Galoparam sedentas de outros mapas.

A terra agora espectro de agra face,
Paragens somente para ossos (frios),
Esqueletos que são aves em ramos,
E até bem pouco não era assim (saibam):
O chão se abria a sonhos e sussurros,
soluço (único) de água mensageira,
E lá vinham pérolas entre musgos,
ametistas suando ao verde sob chuva.

O sol gretou os seios da morena,
sinhá-moça que veio de Belmonte,
intumesceu os olhos generosos.
E fez mais: as almas ressecou,
E os antes desasselvajados rios,
(Mirai) hoje somente veias secas,
E semblantes que vagam nas estradas,
Safra de sombras, ai, dever de velhos.

*Terra aquela não é que sirva para ancião.
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