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O segundo sol em minha vida

Nasce um novo bebê. Nasce uma nova mãe. Não importa quantos filhos você tenha. Cada um deles tem uma mãe diferente

15/01/2016 10:26

 

07 de dezembro de 2015. 22h45. Centro cirúrgico da Clínica Santa Fé. Um choro forte penetra pelos meus ouvidos e toca minha alma com uma revelação: eu já não sou quem eu conhecia. A mulher que entrou naquela sala não está lá. No lugar dela, nasceu uma outra, a mãe de Luísa.

Você é trazida para perto de mim e eu só consigo absorver seu cheiro, seu rostinho. Você é minha e eu sou sua. Inteiramente sua.

Mas como? Você não é a primeira a sair de meu ventre. E meu coração já pertence à Laura e à minha estrelinha. Como posso ser inteiramente sua? Não consigo pensar. Ainda estou inebriada com a sua imagem. Com você comigo.

Os dias passam. Você já fez um mês, Luísa. Já mudou muito, desde que nasceu. E eu mudei junto. Nossos dias, nossas noites, a nossa rotina com sua irmã, seu pai e toda a família... Tudo mudou. Eu ainda sou a mesma, mas sou totalmente diferente.

Quando estava grávida, por vezes eu olhava Laura e me perguntava se seria capaz de dedicar a você o mesmo amor que dedicava à sua irmã. Eu não sabia como ia fazer para me dividir, para ser das duas, com a mesma intensidade.

Essa dúvida já não existe. Você me arrebatou, Luísa. Conquistou meu coração desde a descoberta da gravidez, aos poucos, dia a dia, com o crescer da barriga. Ao nascer, você me arrebatou e mostrou como ser inteira e, ao mesmo tempo, dividida. Eu não sei como isso acontece, mas o fato é que, sim, amo vocês de forma diferente, mas igual.

Esses primeiros dias não são fáceis. Nem sempre há a poesia que nos contam. E eu achava que já sabia disso, afinal, essa não é a minha primeira viagem como mãe.

Mas o estranho – e belo – é que essa é, sim, a minha primeira viagem como mãe, como sua mãe.

Uma das coisas que aprendi com o seu nascimento é que sou mãe da Laura, mãe da nossa estrelinha e sua mãe. E que essas mulheres são todas diferentes. Em muitos pontos, elas se encontram e conversam, confidentes. Noutros, elas divergem e se olham à distância, com um silêncio respeitoso. Noutros, ainda, elas gritam uma com a outra e se desentendem, amarrando a cara e desejando ser, de novo, apenas filha.

E entre dias calmos e noites insones, vamos seguindo e construindo nosso amor. Vivo em turbilhão. Chamam a isso puerpério. Eu chamo renascimento.

Cada dia é uma aventura: um enfrentar de birras da irmã mais velha; um imaginar como seria se Lucas/Maria estivesse aqui e fossem três crianças em casa; um encantar-se com o amor entre você e Laura; um desejar dormir infinitamente e não me sentir tão cansada; um chorar sem motivo e com todos os motivos do mundo; um sentir-me incapaz de ser a melhor mãe do mundo; e um aprender a me amar assim, imperfeita.

Embora eu veja muitas semelhanças entre você e Laura, vejo também suas múltiplas diferenças. E me encontro em vocês. E descubro que esse é o segredo da maternidade: de certa forma, nenhuma mãe tem mais de um filho. Cada mulher é mãe de filho único. Porque para cada filho que você tem, uma nova você nasce e se constrói ao lado da outra.

Eu, por exemplo, tenho em casa dois sóis e uma estrela. Dois pares de olhos de mar em que mergulho, afogo e salvo, diariamente, dando mais sentido à minha vida. E um par de olhos de luz, que não vejo, mas sei que ilumina o meu caminho.

E assim eu sigo, sendo uma e sendo três. Uma para cada filho. Mãe.

Por: Viviane Bandeira, jornalista, mãe da Laura, de uma estrelinha e da Luísa
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