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Filhos com manual de instruções?

Faça isso. Faça aquilo. A única coisa a fazer é que o que você acredita ser o certo. Para você, para seu filho e para sua família

19/03/2016 12:57

 

Adoro ler. Sou do tipo que acha toda leitura válida. Desde o panfleto recebido na rua a publicações científicas. Sempre li muito, sobre muitos temas. Como sou professora, leituras sobre educação fazem parte do meu cotidiano nem sei há quanto tempo.

Depois que me tornei mãe, ler sobre educação passou a ter outro foco. A gente sempre quer saber um pouco mais sobre lidar com os filhos, educá-los para o bem, não é mesmo?

Assim, tornou-se cotidiano passear por revistas especializadas, ler artigos na internet e comprar livros sobre o assunto. Cada uma dessas leituras me ensinou alguma coisa. E me ensina de novo, a cada vez que a retomo.

Mais recentemente, tenho visto uma explosão de publicações que prometem milagres em relação aos filhos. Desde acabar de vez com as birras a fazer um desfralde completo em três dias. Algumas, eu li. Outras, confesso, não.

É claro que essas publicações têm sua utilidade, e muitas delas trazem dicas valiosas. Mas o que acho perigoso, pelo menos para a minha concepção de educação, é transformar esse processo de aprendizado de pais e filhos numa receita.

Se há uma coisa que verdadeiramente aprendi, é que cada família tem seu ritmo, seu jeito. E por isso não acredito em receitas milagrosas.

Tenho duas filhas. Uma fará três anos em abril. A outra tem três meses. E eu olho pra Luísa e vejo o quanto o bebê que ela é hoje é diferente do bebê que a Laura foi. Não lido com ela da mesma forma que lidei com Laura, quando tinha a idade da Luísa. Não funciona.

Acredito que é assim em todas as casas. Cada filho é de um jeito. Por isso não acho que a gente deve agir igual com todos os filhos, sejam dois ou dez. Para mim, devemos agir de forma diferente com cada um, respeitando seu jeito, sua personalidade, desde o nascimento.

Também aprendi que não precisamos ter tanta pressa. Por que é importante desfraldar completamente minha filha em três dias? Ou em uma semana? Não é melhor iniciar o processo e deixar que ele siga seu curso, acompanhando o ritmo da criança?

Veja bem, não estou também querendo dizer como você deve fazer em relação ao seu filho. Estou apenas refletindo sobre como os dias acontecem lá em casa, com as meninas.

E já que falei em desfralde, vou dar um exemplo. Iniciamos o desfralde da Laura ano passado, quando ela tinha dois anos e meio, mais ou menos. Tudo começou bem; mas, perto da Luísa nascer, notamos uma certa resistência dela em ir ao banheiro. Ela queria a fralda.

Nós poderíamos ter seguido as instruções dos livros. Ter insistido com ela, de maneira suave e firme. Ter criado motivações para que ela usasse o banheiro.

Mas não. Nossa intuição, como pai e como mãe, mandou-nos respeitar. Não achamos que Laura estava “regredindo”.

Depois de dois meses, nossa filha mostrou-se incomodada com a fralda. Voltamos para o desfralde. Sem pressa. Sem julgar se está indo devagar ou rápido.

Não se trata, obviamente, de fazer todas as vontades da criança. Não mesmo. Mas de lutar contra a pressa e a cobrança próprias do nosso cotidiano adulto.

Como disse no início, considero válidas todas as leituras. Principalmente porque elas às vezes despertam nosso olhar para um ponto ainda não visto.

Todas essas publicações podem nos ajudar a encontrar o que melhor funcionará em nossa família, em nossa casa. Elas não são um manual.

Filhos não têm manual. A relação se constrói dia a dia, nos desafios e nas alegrias. Por isso é tão difícil educar. E tão gostoso!

Também acho que o grande sucesso desses pseudomanuais vem da nossa ânsia por perfeição. Queremos ser mães perfeitas, com filhos perfeitos, fazendo tudo certinho em todas as horas do dia.

Traduzindo: queremos o impossível. A sociedade nos cobra o impossível. Nós cobramos, de nós mesmas e das outras mães, o impossível.

Precisamos desacelerar, desencanar. Eu, pelo menos, preciso. E tento, todos os dias. Não é fácil, confesso.

Mas em nossa casa, com as meninas, não há “enquadramento”. Há convivência. E amor, muito amor.

Acredito verdadeiramente que nós, mães e pais, sabemos o que é melhor para nossos filhos; o que funciona melhor em nossas vidas, em nossa relação. Os livros podem até nos ajudar, com ideias e técnicas, mas apenas a vivência diária no amor em família nos dirá o quê e como fazer. Erraremos, é fato. Mas como crescer se não experimentarmos?

Por: Viviane Bandeira, jornalista, mãe da Laura, de uma estrelinha e da Luísa
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